1 – Quem pode realizar o encaminhamento para tratamento homeopático?
Qualquer profissional de saúde seja médico, enfermeiro, dentista, psicólogo, assistente social, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, etc, pode realizar o encaminhamento para a avaliação homeopática.
2 – Se qualquer condição ou faixa etária pode ser tratada com homeopatia, quando devo encaminhar o paciente?
Essa questão pode ser avaliada pela perspectiva do paciente e do profissional. Sob o ponto de vista do paciente, os principais fatores que devem ser considerados para o encaminhamento são seu desejo e sua preferência, seja pela ausência de efeitos colaterais, pelo desejo de um tratamento mais natural, ou até pela resistência ou insatisfação com tratamentos até então realizados ou oferecidos. Na prática em saúde baseada em evidências[i] (PSBE), as preferências e valores do paciente constituem um dos componentes a serem levados em conta durante o processo de tomada de decisão clínica. No método clínico centrado na pessoa[ii], um dos principais modelos utilizados na Atenção Primária em Saúde (APS) para orientação da comunicação clínica, o terceiro componente envolve a participação ativa do paciente na construção do seu projeto terapêutico, com importantes impactos positivos nos desfechos clínicos, quando realizado de forma satisfatória.
Na perspectiva do profissional, um dos fatores que influenciam a decisão é a sua experiência com a homeopatia[iii]. Algum profissional já pode ter tido uma experiência pessoal, seja como paciente ou como colega, que modifique sua visão sobre o tratamento homeopático. Os estudos[iv] realizados em países nos quais é habitual que o médico geral possua formação complementar em homeopatia mostram que o mais comum é que estes sintam-se mais seguros em optar pelo tratamento homeopático naquelas condições para as quais a medicina não tem uma terapêutica bem definida ou que a abordagem seja limitada. Cita-se, por exemplo, condições funcionais[v], autismo, quadros indiferenciados, sintomas médicos inexplicados, alergias, infecções de repetição, sofrimentos mentais que não preenchem critérios para distúrbios psiquiátricos, síndrome pós-COVID. Podemos sugerir algumas outras situações nas quais a valiosa abordagem homeopática convém ser lembrada, como aquelas nas quais o paciente apresente contraindicações às terapêuticas bem estabelecidas, como gestantes em sofrimento mental, disfunção erétil em pacientes coronariopatas em uso de nitratos, ou pessoas deprimidas com histórico de intolerância a diversas tentativas de terapêutica farmacológica. O profissional de saúde também pode considerar o encaminhamento para aqueles pacientes que não vêm evoluindo de forma adequada embora em uso da terapêutica alopática preconizada, seja em quadros físicos ou mentais, e que talvez se beneficiem de uma outra abordagem. A homeopatia também representa um importante recurso na prática de desmedicalização[vi] e de prevenção quaternária, com potencial de servir como instrumento auxiliar na desprescrição[vii] [viii].
3 – Há espaço para atendimento dos próprios profissionais de saúde com a homeopatia?
Certamente não há melhor forma de conhecer a homeopatia e se apropriar de suas teorias do que vivenciar na pele um tratamento homeopático. Essa experiência pode modificar o olhar do profissional com relação à especialidade a ampliar sua percepção acerca das situações em que ela pode ou deve ser oferecida[ix]. O trabalho em saúde exige muito dos profissionais, que devem se cuidar para poder cuidar adequadamente dos seus pacientes, reduzindo o estresse e evitando o esgotamento ou burn-out[x]. A homeopatia se apresenta como um dos recursos disponíveis para essa assistência.
[i] SACKETT, D.L.; STRAUSS, S.E.; RICHARDSON, W.S.; et al. Evidence-Based medicine:how to practice and teach EBM. Second edition. Edinburgh:Churchill Livingstone, 2000.
[ii] STEWART, M.; BROWN, J.B.; WESTON, W.W.; MCWHINNEY, I.R.; MCWILLIAM, C.L.; FREEMAN, T.R. Medicina Centrada na pessoa: Transformando o método clínico. Porto Alegre: Artmed, 2010.
[iii] BLACKMAN J.A. Are you ready to discuss complementary and alternative medicine? Fam Pract Manag. 2007 Jul-Aug;14(7):26-30. PMID: 17696055.
[iv] SIRUR, M.; SIRUR, C.; SIRUR, D. Art, science and placebo: incorporating homeopathy in general practice. Sociology of Health & Illness 20.2 (1998): 168-190.
[v] BOEHM, K.; RAAK, C.; CRAMER, H.; LAUCHE, R.; OSTERMANN, T. Homeopathy in the treatment of fibromyalgia -a comprehensive literature-review and meta-analysis. Complement Ther Med. 2014 Aug;22(4):731-42. doi: 10.1016/j.ctim.2014.06.005. Epub 2014 Jun 28. PMID: 25146079.
[vi] JACK R.A.F. Homeopathy in General Practice. 2001. Beaconsfield Publishers, Beaconsfield
[vii] TESSER, C.D.; NORMAN, A.H. Prevenção quaternária e PICS (I). Rev Bras Med Fam Comunidade. 2020;15(42):2551. Disponível em: https://doi.org/10.5712/rbmfc15(42)2551
[viii] TESSER, C.D.; NORMAN, A.H. Prevenção quaternária e práticas integrativas e complementares (II): aproximação contextual. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2021;16(43):2566. Disponível em: https://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2566
[ix] SCHUETT, K. How some of the Old Masters Converted to Homeopathy. Disponível em: www.hpathy.com/homeopathy-papers/how-some-of-the-old-masters-converted-to-homeopathy/. Acesso em: 26 de out. 2021
[x] DRUMMOND, D. Physician Burnout: Its origin, Symptoms and Five Main Causes. Fam Pract Manag. 2015 Sep-OCT;22(5):42-7. PMID: 26554564